Cláudio Assis

por FELIPE DE OLIVEIRA NASCIMENTO

Quem assiste Febre do Rato e conhece Cláudio Assis, diretor do longa metragem, pode se perguntar se não seria ele a própria personificação do poeta do filme. Não por seus versos, mas a espontaneidade, a contestação, a forma de esbravejar perante o público. Como acontece em seus filmes, Cláudio Assis não quer agradar, se enquadrar. Mas sim provocar, questionar, expor seu olhar, ser o que ele é.

Cláudio Assis Ferreira nasceu em Caruaru, agreste pernambucano, em 1959. Cineasta e produtor, começou seu trabalho como cineclubista e ator de teatro. Além de diversos curtas metragens, sua filmografia inclui os longas Amarelo Manga (2002), Baixio das Bestas (2006) e  Febre do Rato (2011), todos filmados em Pernambuco.

Com seu habitual copo de wiski, Cláudio Assis se encontrou com o Voo Subterrâneo no bar Central, em Recife, para responder perguntas sobre seu trabalho e visão de mundo.

SE TORNANDO CLÁUDIO ASSIS

Voo Subterrâneo: Queria que você nos contasse quais foram os acontecimentos determinantes que te fizeram ser o que é hoje. O que determinou você a ser cineasta?

Cláudio Assis: A vida é feita de escolhas. O leque é muito grande. Você é bandido, você é artista, bancário, gay, travesti, homem, mulher:  você é o que você quiser. A vida te dá um leque e você escolhe o que você quer ser.

E porque você escolheu ser cineasta?

Porque acho que eu não sabia fazer nada. Não consegui ser gay, economista, engenheiro. No cinema eu construo meu mundo. A vida é curta, se você não fizer o que vocês quer fazer… Então você tem que escolher.

Mas como foi no meio de tanta escolha você ver que era o cinema, como foi sua caminhada?

Eu fundei vários cineclubes. Desde criança eu assistia filmes de cinema popular da cidade de Caruaru. Quando comecei a frequentar eu tinha 10, 12 anos. Quando era adolescente eu comecei a ser diretor de cineclubes e ator de teatro. Aí que eu resolvi fazer. Chegou uma hora que eu cansei de projetar filmes de outros e resolvi fazer minhas ideias. Fui pra Recife e aqui consegui trabalhar, implantar vários cineclubes nas universidades. Aí uma hora eu pensei: agora que fazer, quero filmar.

E quais as maiores dificuldades que você encontrou nessa transição de ser ator para cineasta?

Foram dificuldades que todo mundo tem. Não tem mais hoje. Hoje você pode filmar até no celular. Mas naquela época a gente não tinha acesso a uma câmera 35mm, o que é normal. Hoje tem câmera head, câmera digital de tudo quanto é modelo.

Até você conseguir material, grana, como você fez pra conseguir realizar?

Lutando, se organizando, brigando, questionando, impondo, dando chute em bilô de burocrata. Tudo é conquistado. Você não consegue conquistar nem mulher nem homem, nem  a vida, qualquer ideia se não tiver atitude. A vida precisa de atitude. Dizer pro cara: você está errado, você é um babaca, você é um burro.

Quais foram tuas principais influências, pessoas que você admira?

Eu podia derramar trilhões de pessoas que não é…  Se eu falar Fellini, Kubrick, Antonioni, Gláuber Rocha, tudo isso influenciou, lógico. Mas eu não sigo linha. São as informações do mundo. E você tem que deixar na sua cabeça pra você saber o que é, de que maneira é, pra você construir seu universo. No meu trabalho eu não sigo ninguém. Eu sei que em algum lugar ou outro alguém está lá. Eu não inventei o cinema, o cinema existe. As influências, os diálogos, as discussões, os parâmetros que você quer fazer você tem que saber, tem que ter cultura, tem que ler muito para saber o que você quer. O que você quer? É conhecer o cinema, ler e fazer.

LONGAS METRAGENS

A vida é feita de tesão. De você ter vontade de conquistar. Se você não conquista você morreu. Esse papo de que não tem sexo na terceira idade é mentira. Quando você transa, você tem vontade, essa coisa é que multiplica.

E nos teus filmes, qual foi a vontade, o tesão?

Vontade de mudar, contribuir pra transformação social. Você tem que ter o compromisso social. Eu faço com o cinema, você faz com o jornalismo. Cada um faz com o que tem. Eu escolhi o cinema.

No Baixio das Bestas, por exemplo, você quis falar da zona da mata, da situação da mulher, por quê?

É o câncer da terra, que é a zona canavieira, que é açúcar, que fode a terra e que fode também as pessoas, consequentemente. O Brasil tem 500 anos de plantação de cana de açúcar. Isso fode não só a terra como os seres humanos. Seja aqui, em São Paulo, para onde for o açúcar, é uma merda.

E em Amarelo Manga é uma relação meio parecida, mas no meio urbano, questão da degeneração, digamos?

Em Amarelo Manga eu quero mostrar que os problemas que temos em Recife são iguais em qualquer metrópole. Seja brasileira ou onde for, os problemas são exatamente os mesmos.

Aí na Febre do Rato a gente percebe que tem uma mudança. É o primeiro que tem uma solidariedade, um grupo de amigos, a poesia, é de uma forma mais positiva. Você quis mudar a forma de retratar?

Eu falei da mesma coisa.

Mas de jeitos diferentes.  

Porque o olhar é diferente. Você pode falar da mesma coisa mudando o olhar, o discurso. O cinema tem essa capacidade de mudar. É um olhar, o teu olhar. O artista, seja de que área for, ele tem que dizer que existe vários ângulos pro olhar. Não pode ser escravo do olhar. Tem que ter essa liberdade pra você poder concluir, construir formas de você  se impregnar e convencer uma pessoa que você pode questionar. “De que lado você samba, de que lado você vai sambar?” De que lado?

DIRETOR E PRODUTOR

Como diretor, o que você vem agregando em cada filme, qual seu crescimento?

Eu me provoco. Quando você quer criar alguma coisa você tem sempre que lutar, fazer. E chamar parceiros. Eu não tenho grandes… ah, fazer um puta filme de 10, 14 milhões de dólares, reais. Tomar no cu. Faço filmes que sou capaz de fazer. Cada história é uma história.

E esse lance de ser produtor, você curte ou é mais pra se manter mesmo?

Eu não curto não. Eu faço de amigo, faço de alguém.

Não é que profissionalmente você precise…

Jamais. Faço os meus, faço de alguém que está próximo de mim. Faço como um hobbye. Quer que eu produze? Vamos produzir.

Direção que é seu lance.

Mas pra ser diretor você tem que saber ser produtor, diretor de arte, tem que saber tudo. Pra filmar não é simplesmente ser diretor. Diretor é só um dado a mais. Diretor não é tudo. Pra ser diretor tem que saber toda essa cadeia.

ZIZO

Como é sua identificação com seus personagens.Existe isso: Personagem tal foi o mais perfeito daquilo que eu planejava. Tem isso?

Não.

O Zizo (personagem principal de A Febre do Rato), teve alguma inspiração?

Foi uma homenagem. Aquela história que teve o Zizo em cima não é nada do que o (poeta real) Zizo é. Foi uma homenagem a ele, só o nome. Uma homenagem aos poetas marginais. Poderia ter botado qualquer outro nome, poderia ter botado Miró, qualquer nome.

E a relação do personagem com você mesmo?

O Irandhir (ator que interpretou Zizo), como um puta ator, lógico que ele se inspirou em mim também. O jeito como eu falo, blasfemo, contesto. Pra isso que serve o ator. Nada que não deponha a favor do filme.

RELAÇÃO COM PÚBLICO E CRÍTICA

Como você vê a percepção do público e da crítica pra seus filmes, você dá importância?

Nunca dei e nem vou dar. Eu jamais farei um filme pra agradar alguém, seja crítica ou seja público. No público, quando eu encontrar honestidade entre eu e eles, eles vão gostar.Quanto a crítica, eles tem o papel deles. Critiquem, ótimo, tem todo o direito, todo o respeito. Eu não faço para agradar eles nem agradar o público. Eu faço pra agradar o que está aqui ó (faz gesto de algo que está à altura dos olhos). Respeito. Isso que importa, respeito.

RESPEITO E ESCRAVIDÃO

No mundo o que falta é respeito. Ninguém respeita ninguém. Não respeita viado, não respeita negão, não respeito branco, não respeita aleijado. Você vê Barack Obama, está espionando todo mundo. Que adiantou ser negro? Não tem diferença de cor, tem de caráter. É ridículo, é escroto, vai pra onde isso? Está aí, começa a fazer com que as pessoas sejam escravas, como se a escravidão acabasse. A escravidão americana, europeia, brasileira, está tudo aí, são todos escravos.

Como você faz pra sair da escravidão?

Eu não sou, faço o que quero.

Não se considera escravo?

Faço o que quero. Eu não abro mão nem pra nada e nem pra ninguém.

E consegue?

Lógico, estou conseguindo. Eu bebo hoje e pago minha conta. Sempre fiz isso.

***

Nessa parte da entrevista eu vou falar algumas palavras e queria que você dissesse o que pensa em relação e elas, a primeira é arte.

ARTE

Pra mim a arte é o que resta na humanidade. É o que é. Não adianta essa autodenominação artista. A arte é uma coisa que ela tem que ser preservada, tem que ser construída. Eu não me considero artista, eu faço. Quem vai dizer é o tempo.

E quando falam de arte de elite e arte marginal?

Falam que eu sou marginal. Marginal de quê? Eu não sou social e não sou também marginal. Rótulos:  a sociedade quer que tenha rótulos, ou você é isso ou aquilo. Eu não tenho nenhum problema com isso.

SEXO

Pode tudo. Cada um tem seu sexo, o sexo é de cada um. Sexo para mim é como comer, como beber. Não é como rezar. Quem reza peca.

Está sempre presente em seus filmes.

Sexo faz parte da vida, meu bem. Sexo é necessidade, todo mundo tem. Sexo é uma coisa que tem que ter. Só existe humanidade porque tem sexo. Se não tiver o sexo vai ter o quê? Não boto pra forçar a barra, pra dizer que tem que foder. A história conta, está lá. Se você ver a história da bíblia, Jesus, Maria, está lá, já trepavam. Se ele não comeu Maria problema dele, porque ela deu pra todo mundo. O ser humano é tão escroto que ele diz que a Terra é mulher e Deus é homem. Mas Deus não tem mulher. A lua é mulher. O homem determinou de uma forma que fode tudo, acabou. Alma é mulher, anja da guarda é homem.

Coloca gênero de uma coisa que não existe…

Não tem separação. Seja entre homem e homem, mulher e mulher, entre não sei o quê que vai inventar ainda. Sexo é sexo, e tem que ter.

DEUS

Pergunta o que ele acha de mim, o que eu vou achar dele? Ele é Deus, cara. Pergunta a ele: “o que você acha do Cláudio Assis?”, aquele safado, magrelo.

E religião?

São múltiplas. Todo mundo tem a sua, é que nem futebol, é igual. Não estou nem um pouco preocupado.

Também pra ti não teve que escolher uma…

Não. Tenho várias e não tenho nenhuma. Respeito todas elas. Adoro o candomblé, o espiritismo, adoro. Até do catolicismo, tem coisas que eu gosto do catolicismo, não tenho problema nenhum. Cada um tem a sua. É questão de você dizer “não vou por ali, vou por aqui”. Que nem eu falei no começo: escolhe.

Então você tem alguma espiritualidade.

Eu tenho. Tenho respeito, tenho vontade. E tem muito o que eu posso contribuir. Mas me ligar a alguma seita… não vai dar tempo. Seita é muito pra quem é isso. Fica lá, respirando… acho do caralho, admiro, respeito, dou maior força. Mas não vai dar tempo, não vai dar tempo.

AMOR

É Roma ao contrário. E Roma é da igreja católica, odeio. Por que não há amor, o amor que existe é mediocridade. O que existe é uma paixão, tesão, vontade, isso todo mundo tem. Amor? Amor? Amor é Roma, e Roma é poder. Olha a igreja Católica, a decadência que está. Olha o bispo da Alemanha, olha o tesouro dele. Tudo ladrão. Aí inventa o papa Francisco. Ô seu Francisco, e aí?

Mas tirando essa romanização do amor, você vê essa questão ideal, não entre homem e mulher, mas amor mesmo?

Tem amor não, cara. Tem carinho, tem gostar, tem respeito. Isso é o mais importante. Você gostar do outro, respeitar o outro. Se dá o nome de amor, cada um dá o nome que quiser.

Mas você diz que não existe por não ser feito ou por não existir mesmo? Por a gente não ter chegado ao amor ou por ser um ideal inalcançável?

Só existe o amor errado. Toda vez que você amou, presta atenção, se terminou: “porque fui amar isso, por que amei?” Aí você começa outro, e vai amar de novo. Aí você acaba, ele acaba ou ela acaba: “ih, caralho, que merda. Porque eu amei?” Só se ama errado.

DROGAS

Toda a humanidade tem drogas. Não existe uma humanidade que não tenha droga, todas. O álcool. Quer droga que fode mais a humanidade, fode a família, que o álcool? E ele é permitido, é consumido, e o governo cobra impostos sobre ele. A maconha não pode, pode não sei aonde, cocaína não pode. Não pode o quê? Tudo pode. Não tem um lugar que não tenha drogas.

E tua relação pessoal com o álcool. Te fode também?

Lógico que me fode. O álcool é degradante porque posso beber aqui socialmente, estou bebendo. Posso cheirar cocaína ali, escondido. O álcool não, eu bebo com a minha família, encho a cara. Fode mais com uma pessoa?

Nas suas aparições públicas a maioria você está bêbado. Você sente uma necessidade mesmo ou…

É pra chutar o pau da barraca. Não quero compromisso com essa sociedade escrota. Eu bebo só pra dar risada deles, falar o que quero. Não sou escravo deles.

Se você não tivesse bêbado não falaria o que quer?

Falaria mais divagar, mais lentamente, (diz com voz irônica) eloquente, socialmente.

Ajuda na performance, digamos?

É que todo mundo quer que eu faça isso (fale no padrão). Estou nem aí, falo do jeito que eu quiser na hora que eu quiser.

POLÍTICA

É o jogo do poder. Hoje Eduardo (Campos) se junta com Marina (Silva). Quem diria? O PT quer comandar o poder. Mas teve o mensalão. O mensalão foi pra comprar pro Lula poder governar. Não foi bom o Lula governar? Foi, o Brasil avançou com Lula. Mas pra poder governar ele comprou os partidos, os políticos. E aí? Mas política é isso. No mundo só existe a política, é uma coisa que mantém o mundo. Se não existe política exite guerra, existe bala. Que a política consegue convencer as pessoas a viverem pacificamente. Quando a política entra em decadência há guerra. Os Estados Unidos quer manter o controle do mundo. Se não, vai invadir a Europa, vai invadir o Brasil. Então a política é uma ciência da dominação.

E a relação da política com cinema?

Também é política dominadora. Os EUA só são o que são porque foram inteligentes e determinam o que o mundo, o audiovisual… eles mandam,  dominam,  controlam, obrigam a pessoa. Vendem armas, sapato, hambúrguer, jeans, tênis. Estão fodidos, vê se eles não estão gordos vendendo hambúrguer pra eles mesmos. Até eles estão fodidos por eles mesmos.

ANARQUIA

É a coisa mais importante que existe. Não tem que ter compromisso, não tem que enquadrar. Seja anarquista no olhar.

Poderia se viver politicamente com a anarquia, política no sentido de organização da vida?

Lógico. O Estado só existe porque a democracia é uma grande mentira. Inventaram que é a maioria que manda na minoria. Mentira. É a minoria que manda na maioria. Democracia é um grande blefe que a sociedade moderna inventou. Democracia, democracia, democracia… democracia o caralho. Quem manda é quem tem poder, quem tem dinheiro.

BRASIL

Brasil é um país que não se reconhece. É um país de interesses, é um país que falta muito a ser construído. O Brasil tem uma dicotomia que é impressionante. Você faz uma transamazônica que leva do nada ao nada. Tem um povo escravizado em São Luís do Maranhão e outro lá no Rio Grande do Sul. É uma loucura. Aí você vê um governo: “vai, vende carro”. E não amplia rua, não amplia metrô, não amplia nada. E isso dá um nó cego. Tem uma hora que vai parar, vai parar. É ranço da ditadura militar. A ditadura militar que acabou com as vias ferroviárias e não incentivou, porque era a Goodyear, era petróleo, era ônibus, caminhão. Nem os portos nem a ferrovia foi incentivada. Vai ter uma hora que essa merda vai parar, é fato.

DINHEIRO

Tem? Paga a conta.

Como é financeiramente viver de cinema?

Escolha. Eu poderia muito bem ser um economista. Mas quis tomar no cu, fui fazer cinema. Mas não me arrependo, bebo pra caralho. É escolha. Escolhe e persegue o teu sonho. A vida é feita de sonhos.

MORTE

Todo mundo tem a sua. Depende da sua capacidade se você antecipa ou não a sua morte. O ser humano só é igual quando caga. Seja Gisele Bündchen, seja Jesus, todos cagaram. O prefeito caga mais ainda. Cineasta, todos cagam. É o único lugar onde o ser humano é igual, não na morte. Se você tiver dinheiro vai para o maior hospital do mundo e prorroga sua morte.

Você se preocupa com a morte, já pensou no que vem depois, tem medo?

Daqui a pouco passa aí um carro e te mata e leva teu cu pra lá. Eu também, completamente igual. Teu avião que tu vai voltar pra Curitiba vai cair e nem essa entrevista vai sobrar.

Bem natural essa coisa, nada de chorar, nada de…

O que importa é aqui.

Mas muito tipos de mortes poderiam ser evitadas também, né?

É nada. O mundo é cruel, o mundo é filho da puta. O ser humano é nojento.

FELICIDADE

É uma coisa momentânea. Não é uma coisa eterna. Felicidade você provoca, às vezes vem e às vezes não. Não existe felicidade eterna.

O que provoca sua felicidade?

Meus amigos. O prazer de contemplar, o prazer de realizar os sonhos. Realizar os sonhos.

Você realizou muitos sonhos?

Lógico, sempre. Estou filmando.

Teve algum que você não realizou?

Vai ter quando eu morrer. Porque eu não vou ter condições.

Não vai ter realizado os outros.

Sonho é a coisa mais do caralho.

E já teve alguma decepção, no trabalho, na vida pessoal?

Tem todo dia. Saiu de casa é decepção. Pode ser um trânsito do caralho, uma mulher que não te ama, um amor que não existe.

***

NATUREZA HUMANA E TRANSFORMAÇÃO

O mundo é cheio de burocracia. O ser humano é limitado. Ele vive sobre regras, ele está ali fadado ao fracasso. Esse carro passou  na contra mão agora (na rua vazia). Qual o problema de passar na contramão? É só um carro que está ali passando.

Você diz que a gente exagera muito em coisas que podiam ser mais simples?

Podia ser muito mais normal, mais simples. A vida podia ser muito menos agressiva.

Porque você acha que um ser humano é nojento, qual a causa disso?

Porque ele quer sempre estar de bem, ser vitorioso, quer conquistar. Ser humano não perdoa nada. Ele é ganancioso, é prepotente.

Você acha que isso é da natureza mesmo?

Lógico que é. Por isso que o ser humano escraviza todos os animais. Aí vem o negócio de defender os animaizinhos. Menininha bonitinha de classe média que não faz porra nenhuma da vida e vai defender cachorro. Porque não defendeu antes? Aí agora vai fazer uma coisa lá no You tube. Eles já sabem disso desde o começo. Por que não defendeu antes, por que não estava lá?

Você tem uma pretensão de que alguma forma seu trabalhe mude essa situação humana?

Lógico. Eu contribuo para que a sociedade tenha um olhar crítico sobre a situação. Ter uma atitude no dia a dia que mude. É natural, se não eu não teria seguido meu cinema.

Em que medida você acha que isso acontece mesmo?

Eu fui educado por Fellini, Pasolini, Antonioni, Kubrick. Esses caras no cinema diziam: ”olha, a sociedade é isso, você tem que tomar alguma atitude”. Então se toma uma atitude ou não toma ninguém vai obrigar. Quem mudar mudou, quem não mudar… não sou Deus. Se nem Deus mudou, quanto mais eu. Eu trabalho nisso, então acho que está tudo certo. Cada um dá o que tem e quem não tem nada dá.

SOCIEDADE IDEAL

Você tem alguma ideia de uma sociedade ideal?

Eu tenho. Sociedade em paz, com liberdade, faça o que você quiser.  Faça tudo fora da lei. Eu fui educado com Raul Seixas. Tem que dar liberdade. Tem um amigo meu que morreu já, Manoel Galdino, ele diz o seguinte: “Deixa a baleia cortar a água”. Deixa ela ser quem ela quer. Ela é grande, enorme. Isso é o ser humano. Deixa. Se está errado, está certo, não importa. Deixa a baleia cortar a água.

MEDO E SAUDADE

Você tem medo de algo?

Medo é para os perdedores, para os fracassados. Medo? Eles vão ser sempre vencidos.

Você não vê nenhum tipo de positividade no medo?

Não. Odeio. Medo é para os fracassados, os idiotas, os babacas, filhos da puta. Esses não vão sobreviver.

Tem saudade de alguma coisa?

Do futuro, só do futuro.

Do que você tem pra realizar?

É.

PLANOS

Tem planos para o futuro?

Fazer um filme de anões. Uma cidade de anões onde as pessoas querem crescer os outros, vem uma ONG querendo crescer os anões. Os anões não querem crescer, querem olhar o mundo do jeito deles. Me respeite como pessoa. Respeito. Pobre ou rico, negro ou branco. Respeito.

CITAÇÃO E APRENDIZADO

Uma frase ou citação que você curte.

Vai te foder.

Aprendizado que você quer compartilhar com os outros.

Respeito.

***

Na entrevista completa (em áudio):

– A semelhança entre rato, caranguejo e o ser humano.

– Cláudio Assis mandando o entrevistador tomar no cu e o apressando diversas vezes para que a entrevista acabe logo.

Mais sobre Cláudio Assis:

Entrevista com Rogério Skylab (Canal Brasil)

Entrevista com Nuestro Cine no Festival de Paulínia;

Entrevista na Revista de Cinema;

Entrevista no blog Música e Poesia.

Filmes para assistir on line:

Amarelo Manga;

Baixio das Bestas;

Febre do Rato